quarta-feira, 2 de maio de 2012

CHRYSLER TURBINE - BOULEVARD

- No início da década de 1960, a Chrysler apresentou um conceito que fez a imaginação do público voar. E não estamos falando dos “carros do futuro”, materializados no desenho de Hanna-Barbera, os Jetsons.

Um motor turbinado e com três rotores, essa era a proposta da Chrysler ao apresentar o modelo Turbine, em 1962, um sedan pequeno para os padrões da época, com a mesma tecnologia empregada nos aviões.

O carro foi desenhado pelo estúdio Ghia, sob a coordenação de Elwood Engle, designer que criou o primeiro Ford Thunderbird (qualquer semelhança, portanto, não é mera coincidência). A frente, era igualzinha ao Ford, e na traseira a única diferença eram as linhas mais aerodinâmicas, até certo ponto difícil de agradar. Além das grandes lanternas horizontais, o Turbine trazia dois cones que imitavam a saída de ar das turbinas. Este pequeno cupê de duas portas tinha assentos individuais, toda a pinta de carro esporte.

O desenho avançado para o exterior se repetia no interior. Com três grandes mostradores redondos, o carro também tinha um console largo cheio de botões e um painel iluminado sem lâmpadas. O sistema contava com um transformador de alta tensão que passava a energia por cabos de plástico especiais eletroluminescentes que geravam cores azul e verde.

Aspirador de pó

O motor do Chrysler era uma turbina comum, com três rotores. Entre o primeiro e o segundo, havia uma câmara de combustão onde estava o sistema de injeção. O terceiro rotor era movimentado pelos próprios gases da queima do primeiro estágio, e transmitia a força para uma caixa de transmissão de três velocidades, chamada Torqueflite.

No press-release divulgado na época, a Chrysler explicava que o motor continha uma série coordenada de peças que reduziam a rotação, afinal o propulsor podia chegar a 50 mil rpm. O complexo do mecanismo deixava o desempenho do carro condizente com o de um motor V8 small block, com potência de 130cv, razoável. 

O Turbine era um carro leve, pesando cerca de uma tonelada, metade do que os carros pesados do seu tempo.

Teste com consumidores

A montadora tinha planos audaciosos para o seu conceito, que ganharia escala mundial e mudaria completamente a história dos automóveis. O motor podia ser alimentado com gasolina, diesel, querosene e até óleo vegetal.

A Chrysler distribuiu alguns folhetos que explicavam o uso da nova tecnologia aplicada à motores de automóveis. O material impresso continha a seguinte pergunta: “se um automóvel com essa tecnologia fosse oferecido ao mercado, você pensaria em comprar um?”. Com as respostas positivas, a fábrica selecionou um grupo que iria testar o modelo em várias regiões dos Estados Unidos.

Foram produzidas 55 unidades, distribuídas a este grupo de possíveis consumidores, que utilizaria o carro no dia a dia.

O primeiro inconveniente foi notado logo nas primeiras clínicas-teste da Chrysler, em Detroit. O barulho do motor ligado era semelhante ao de um aspirador de pó e os gases expelidos pelo escapamento saíam em temperatura muito elevada gerando desconforto entre os usuários. Mesmo assim, o projeto seguiu em diante.

No total, 203 pessoas testaram o carro por vários meses em 1963. Porém o resultado não foi animador; o alto consumo de combustível, nível de ruído que chegava a incomodar, pouco torque em baixa rotação além de vários casos de superaquecimento foram as queixas mais freqüentes.

Com o grande alarde feito pela Chrysler para toda a imprensa, jornalistas acompanharam os testes de vários consumidores. A minoria aprovou o uso do Turbine no uso cotidiano e o projeto foi definitivamente abandonado. 

Dos 55 carros produzidos, a maioria foi destruída e alguns foram doados a museus. Em 1999, um dos sobreviventes foi fotografado rodando na cidade de Hershey, no estado da Pennsylvania. O carro pertence ao Antique Automobile Club of America e costuma aparecer em eventos especiais. Aparições rápidas, como um flash.






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